sexta-feira, 5 de outubro de 2007


Que a vida compense e que seja feliz
Oswaldo Montenegro e Lavínia Vlasak

A música que vão ouvir é brincadeira
Vampiros não existem, mas sim,
Existem de outra maneira
Alguém suga coisas em você e em mim
A morte é igual, falsa e verdadeira
Mãe do início, avó-do-fim
Que seja a morte o fim da esperança
A morte é o beijo que ficou sem graça
É a velha que já não dança
É quem não gosta de você de graça
É o ciúme que devora e cansa
É a paixão que te incendeia e passa
A morte é a família que te odeia
É a inveja de quem você adora
Como um sangue que sabota a veia
É a tua espera quando alguém demora
É o amigo lá da tua aldeia
Que esqueceu aonde você mora
Que seja a morte a morte de quem você quer bem
É o vício de quem espera a sorte
Pra quem a sorte nunca vem
É a morte de quem vem do Norte
E passa a vida esperando o trem
É o pai que não diz que te ama
Para alguns, Castelo de Vestal
Pra mim é quando alguém me engana
Para alguns é só ponto final
A morte é o quadro-negro com saudade da mão com giz
Para alguns é dor
Para outros, sossego
A platéia vazia é a morte da atriz
Por fim, é um brinde a viver sem medo
Que a vida compense
E que seja feliz

sábado, 11 de agosto de 2007

Seminário Performático: Fetichismos Visuais, Metrópole Comunicacional, Mercadoria Digital, Corpos Panoramas | SESC - 15 a 17 de agosto de 2007
Última modificação 03/08/2007 15:11

SEMINÁRIO PERFORMÁTICO FETICHISMOS VISUAIS METRÓPOLE COMUNICACIONAL, MERCADORIA DIGITAL, CORPOS PANORAMAS

15 a 17 de agosto de 2007 -

quarta a sexta, 14h às 22h

SESC Avenida Paulista

"Tudo aquilo que provém dos sonhos fetichistas aterrissa nas passarelas da moda" (Vivienne Westwood)

Este seminário performático e interdisciplinar manifesta uma urgência desejante - ao mesmo tempo crítica e sensorial - que cruza, mistura e inova linguagens perceptivas: por penetrar e ser penetrado pelos fetichismos visuais.O objetivo é que tenha uma disjunção entre o tradicional conceito de fetiche e a crescente proliferação de diversificados fetichismos visuais. Nesta perspectiva, a matriz "colonial" da palavra fetiche, aquela "alienada" de Marx ou "perversa" de Freud não conseguem dar o sentido desta mutação. As dimensões visuais dos novos fetichismos são ligadas a processos que, em grande parte, têm as novas tecnologias digitais como força propulsora junto a uma subjetividade mais fluida num contexto comunicacional trans-urbano.Um panorama sempre mais denso de códigos mutantes e aberturas sensoriais se incorpora entre arquitetura, arte, publicidade, cinema, design, música, moda, cirurgia. Todas estas dimensões são incompreensíveis sem relações corporalizadas da comunicação visual-digital. O contexto policêntrico desde difusão fetichista não é mais o tradicional conceito de sociedade industrial, mas sim das áreas híbridas das metrópoles comunicacionais, da mercadoria digital, do corpo como panorama.O seminário se apresenta como uma composição interdisciplinar, com diversas tanto quanto dissonantes vozes polifônicas postas em cena. Antropólogos, filósofos, arquitetos, coreógrafas, psicanalistas, semióticos, estilistas, informáticos, publicitários, artistas, músicos, cirurgiões expõem suas visões sobre os Fetichismos Visuais.Enfim, propõe-se, seja uma metodologia compositiva, baseada no estupor que incorpora, atravessa e força o poder dos fetichismos visuais; seja uma exposição performática, que mistura linguagens e percepções. Neste sentido, a citação de Vivienne Westwood antecipa filosofia e antropologia, música e psicanálise, coreografia e arquitetura.PROGRAMAÇÃO15/08, quarta-feira, às 19hO ESTUPOR DO FETICHISMO - palestra performática de Massimo CanevacciO conceito de fetichismo, seu nascimento e desenvolvimento na cultura ocidental desde o colonialismo. Isso se modifica profundamente quando o fetichismo se cruza com a comunicação visual, em particular na digital, e se difunde mais no consumo do que na produção. O desafio reside na elaboração de uma metodologia diferente, baseada no "estupor", que incorpore e atravesse os fetichismos visuais. 16/08, quinta-feira, às 16hPainel CÓDIGOS FETICHIZADOSSérgio Bairon (PUC-SP)Pedro Fiori Arantes (UNICAMP) Clotilde Perez (ECA-USP e PUC-SP)Gal Oppido - fotógrafoMediação: Pollyana Ferrari (PUC-SP)Este painel pesquisa o âmbito do hipermídia aplicados na semiótica, nas construções da arquitetura, design, fotografia e publicidade. Assim se indaga também como celulares, internet, Orkut e You tube elaboram novos ideogramas e videogramas que nas mesmas formas gráficas incorporam códigos fetichizados além do tradicional alfabeto. 16/08, quinta-feira, às 19hCORPOS FLEXÍVEIS E PRÁTICAS DISCIPLINARESconferência de Vladimir Safatle (USP)Uma reflexão sobre como a flexibilização contemporânea da imagem do corpo e da noção de identidade de si é um dispositivo fundamental de funcionamento dos procedimentos disciplinares. Isto pode nos explicar porque o corpo se transformou em elemento central da política.16/08 - quinta-feira, às 21h SANDMANN - O HOMEM DE AREIA - coreografia-etnografia-musicografia, com Sheila Ribeiro, Massimo Canevacci e Arrigo BarnabéPenetrando os novos fetiches visuais contemporâneos, este seminário-performático apóia-se no conto de E.T.A. Hoffmann, Der Sandmann, na arte e na publicidade, para habitar as relações entre corpo, metrópole e comunicação visual. Em um tecido performático múltiplo, a etnografia de Massimo Canevacci, a coreografia de Sheila Ribeiro e a música de Arrigo Barnabé, evocam Freud, Rilke e Hans Bellmer, entrelaçando fetichismo metodológico, hipertextual e coreográfico.17/08, sexta-feira, às 16h Painel CORPOS DIGITAISAlexandre Herchcovitch - estilistaOlgária Matos (USP)Paulo Jatene - cirurgião plásticoOscar Cesarotto (PUC-SP)Lucia Santaella (PUC-SP)Mediação: Ilana Feldman (UFF)A percepção do corpo contemporâneo na cultura "ocidental" é um "centro decentrado", fluido que modifica o tradicional conceito de corpo monista (só material) ou dualista (corpo-alma ou corpo-mente). A introdução do digital no "corpo-a-corpo" pluraliza uma condição sempre menos "natural" e mais cultural e comunicacional. Esta visão fetichista e mutante do corpo digital é difundida e problematizada pela moda, cirurgia, arte, filosofia e pela psicanálise a partir do sex-appeal do inorgânico (W. Benjamin) até o Videodrome de David Cronenberg.17/08, sexta-feira, às 19h Painel SECOND LIFEAbel Reis (Agência Click)Laura Graziela Gomes (UFF)Romero Tori (POLI-USP)Mediação: Edu Almeida (FIEO)A comunidade virtual Second Life é exemplo claro da proliferação dos fetichismos visuais através da comunicação digital. O SL envolve economia imaterial, psiquê multi-identitária, corpo expandido e design digital, de maneira crescente e normatizadora. O avatar é confinado em uma visão dualista (a segunda vida), ainda que o conceito nasça associado à comunicação digital, posto que desenvolve uma multiplicidade dos "eus". O SL é parte dos conflitos comunicacionais contemporâneos, nos quais o corpo-fetiche é uma presença-ausência perturbativa.17/08, sexta-feira, às 21h EXPERIMENTO PORTÁTIL - uma ação sob encomendaperformance de Letícia SekitoProposta de dança-experimento que tocará na relação entre corpo, desejo, comunicação, escolha e cultura. PARTICIPANTESAbel Reis é VP de Tecnologia da AgênciaClick. Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. M.Sc. em Engenharia de Sistemas pela COPPE/UFRJ. Bacharel em Informática e Filosofia. Há 15 anos trabalha em projetos de mídias digitais.Alexandre Herchcovitch é estilista e autor do livro Cartas a um jovem estilista.Arrigo Barnabé é músico formado pela ECA-USP e estudou na Arquitetura na FAU-USP. Nos anos 70, participou do Festival Universitário da TV Cultura com a música Diversões eletrônicas. Lançou seu primeiro LP, Clara Crocodilo, em 1980. Em 1983, recebeu prêmio do Festival de Gramado pela trilha sonora do filme Janete, de Chico Botelho. Em 1997, lançou o CD Ed Mort, trilha sonora do filme de Alain Fresnot. Clotilde Perez é professora da ECA-USP e PUC-SP. Doutora em Comunicação e Semiótica e Mestre em Administração de Marketing pela PUC-SP. Pesquisadora com experiência na área de Comunicação, Semiótica e Administração de Marketing. Autora dos livros Signos da Marca e Hiperpublicidade.Edu Almeida é radialista, videomaker, especialista em Sócio-Psicologia, mestre em Comunicação e Semiótica. É professor da graduação nas áreas de Comunicação Social e Design Digital. Atualmente leciona no Centro Universitário FIEO e pesquisa a relação entre o corpo e a noite. Gal Oppido é fotógrafo ensaísta com trabalhos nas áreas de artes cênicas, arquitetura e projetos gráficos. Formado em Arquitetura pela FAU-USP, expõe desde 1981 em lugares como EUA, Cuba, França, Alemanha e Portugal. Suas obras integram acervos do MASP e MAM. Ministra cursos sobre fotografia brasileira e latina.Ilana Feldman é Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Imagem da Universidade Federal Fluminense, com a pesquisa "Paradoxos do visível: reality shows, estética e biopolítica". Redatora da revista Cinética e colaboradora da revista Trópico. Diretora, em parceria com Cléber Eduardo, do filme Almas Passantes - um encontro com João do Rio e Charles Baudelaire.Laura Graziela Gomes é professora do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense. Desenvolve pesquisa sobre novas mídias, internet, cibercultura, acompanhando e investigando pessoas que possuem uma vida digital. Pesquisa fansites, blogs e Second Life. Letícia Sekito é dançarina e coreógrafa, trabalha com improvisação, criação coreográfica, direção em dança e performance. Fez sua formação no C.E.M - Centro em Movimento, Lisboa, entre 1990 e 1996. Lucia Santaella é professora titular na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Doutora em Teoria Literária pela PUCSP e Livre-docente em Ciências da Comunicação pela USP. É coordenadora do programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital. Autora dos livros Corpo e Comunicação: sintoma da cultura e Culturas e Artes do Pós-Humano: da Cultura das Mídias à Cibercultura, entre outros.Massimo Canevacci é professor de Antropologia Cultural na Universidade de Roma "La Sapienza". Fetichismos visuais, culturas metropolitanas e nativas, comunicação digital e movimentos juvenis são suas áreas de pesquisa. É diretor de avatarXL, revista on line de antropologia, comunicação e artes e autor dos livros Antropologia da Comunicação Visual e Una stupita fatticità (em fase de tradução). Olgária Matos é professora titular em Teoria das Ciências Humanas junto ao Departamento de Filosofia da USP e autora dos livros Os Arcanos do inteiramente outro: a Escola de Frankfurt, a melancolia, a revolução; O Iluminismo Visionário: Walter Benjamin, leitor de Descartes e Kant, entre outros.Oscar Cesarotto é psicanalista e professor da PUC-SP em Comunicação e Semiótica. Autor dos livros No Olho do Outro: o Homem da Areia segundo Hoffmann, Freud e Gauman; Contra Natura: Ensaios sobre Psicanálise e Antropologia Surreal e Verão da Lata, entre outros. Paulo Jatene é cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.Pedro Fiori Arantes é arquiteto e urbanista formado pela FAU-USP, autor do livro Arquitetura nova e coordenador da assessoria técnica USINA, que apóia movimentos populares na construção de alternativas habitacionais. Realizou mestrado sobre as Políticas para as cidades do Banco Mundial e BID e faz doutorado, ambos na USP, sobre novas tecnologias da construção. Pollyana Ferrari é Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP e ministra aulas nos cursos de Jornalismo e Multimeios na graduação, e Design, Programação Visual e Infografia e Jornalismo Online na Pós-graduação, ambos na PUC-SP. Pesquisadora em narrativas hipermidiáticas pela USP e autora dos livros Jornalismo Digital e Hipertexto Hipermídia. Romero Tori é professor da Poli/USP, onde coordena o Interlab - Interactive Technologies Laboratory, e do Centro Universitário Senac, no curso de Mestrado em Design. Presidente da Comissão Especial de Realidade Virtual da Sociedade Brasileira de Computação e autor de diversos livros e artigos. Organizou o livro Fundamentos e Tecnologia de Realidade Virtual e Aumentada.Sérgio Bairon é professor da PUC-SP e Universidade Mackenzie. Tem experiência nas áreas de Estudos Culturais, História da Cultura, Psicanálise da Cultura, Antropologia Visual e Hipermídia. Autor dos livros Texturas Sonoras e Hipermídia.Sheila Ribeiro/dona orpheline é artista na área de dança contemporânea. Suas coreografias para palco, instalação e vídeo-dança lidam com ilusão, manipulação, publicidade e comunicação contemporânea. Trabalha com os coreógrafos Benoît Lachambre, Martin Bélanger, com o intérprete Matthieu Doze, os cineastas Joe Hiscott, Sophie Deraspe e Laurent Goldring, e os músicos Maurício Pereira, Edgard Scandurra e em outras colaborações. Vladimir Safatle é professor do Departamento de Filosofia da USP, professor visitante das universidades de Paris VII e Paris VIII, autor de Lacan; A paixão do negativo: Lacan e a dialética e Fetichismo (no prelo).INSCRIÇÕESPessoalmente, no SESC Avenida Paulista - Central de Atendimento Terça a sexta, das 9h às 22h. Sábados e domingos, das 10h às 19hAvenida Paulista, 119 Paraíso - São Paulo Via Fax: (11) 3179-3765 (envio de recibo e ficha de inscrição)Por telefone: (11) 3179-3700 ou 3179-3716 Terça a sexta das 9h às 22hSábados e domingos, das 10h às 19hPelo portal: www.sescsp.org.br Taxas de inscrição R$ 10,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes, estudante, aposentado e professor da Rede Pública), R$ 15,00 (usuário matriculado), R$ 20,00 (demais interessados) Formas de pagamento:Depósito bancárioNome: Serviço Social do Comércio - SESC Avenida PaulistaBanco: Caixa Econômica FederalAgência: 0235C/C: 1307-5Rede SESCO pagamento da taxa de inscrição pode ser feito em todas as unidades pelo Sistema Ingresso SESC.A inscrição será validada após o envio do comprovante de pagamento da taxa de inscrição para o fax 3179-3765. O fax deve ser acompanhado da ficha de inscrição ou conter nome completo, telefone e e-mail do inscrito.Mais informações:seminario@avenidapaulista.sescsp.org.brTelefone: (11) 3179-3716 ou PABX: (11) 3179-3700Fax: (11) 3179-3765

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Viver! ( Luís Fernando Veríssimo )

"Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.
Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km . Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem! Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem; você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde. E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna. Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca. Conversa é melhor do que piada.Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada. "

sábado, 7 de abril de 2007

2007 e a teoria do casulo.


27/01/2007
2007 e a teoria do casulo.



Final de férias e final do primeiro mês de ano. Em março eu fico mais velho. Outro aniversário, outros cabelos brancos apontam (aliás, eles sempre se destacam exatamente porque apontam, no meu caso quase sempre para o lado oposto onde todo o cabelo foi penteado com pasta e os dez dedos da minha mão). Depois de um período um tanto quanto conturbado (eu não ousaria mesmo crer que o que passei nessas últimas semanas foram férias) resolvi colocar alguns projetos em dia. Rabisco as primeiras idéias para minha pesquisa de doutorado – o tema pelo menos eu já decidi: entre dois – mas o importante é que já sei onde os livros estão na estante. Também reformei a sala, o banheiro agora tem um espelho legal que posso me ver da cintura pra cima (a antiga moradora havia levado o armário do banheiro e não me pergunte para quê) e principalmente reformei minha pior e mais excitante clausura, ou como diria Faith Popcorn, meu Cooconing ou encasulamento: Meu escritório. Aqui quase tudo dói durante o ano. Abrir os e-mails e receber as notícias de que alguém que você gosta demais não anda mais por aqui (como aconteceu ano passado com a perda de dois grandes alunos). Dói a cobrança de um entre 10 relatórios que você não fez e o prazo já era. Dói o Spam que nada mais era que um vírus te “alertando” que seu nome estava agora na malha fina (mesmo que você já tenho pago tudo, centavo por centavo da sua contribuição ao governo). Dói também a notícia que seu projeto não foi selecionado para aquele festival de arte eletrônica e – o pior – você ainda jurava que um pouco de talento ajudava a furar antigas panelas da elite intelectual paulistana. Aqui também o telefone toca, a Bina avisa e você sabe que deve decidir entre fazer o “set” (o maço de cigarro, um suco, um som de fundo) para ficar mais de uma hora com seu amigo tão solitário e tedioso quanto você ou deve optar em deixar a Bina muda e continuar imerso no Vale do Silício em busca das imagens para o trabalho, da música que você só se lembra do refrão, mas pode te ajudar a dar mais brilho pra essa parte da casa. Alguém falou em casa? Até porque lembrar que a casa existe só acontece mesmo quando o latido do seu cachorro te despluga violentamente do virtualismo. Aí sim, você resolve olhar pro lado e também se lembrar que a janela está há menos de um metro de você e que hoje é dia de feira e ainda tem um dia repleto de tarefas. O que distrai o tédio e dribla o vale é uma passadinha no Orkut. Não sou eu o único que mora sozinho e mesmo antes de entrar em casa deve fazer o ritual: Boa noite Bina! Boa noite Orkut! (excitante hora de medir o Ibope). Enfim, para 2007 o casulo mudou um pouco, cores novas na parede, uma grande porta pra lacrar a imersão, e tudo no lugar certo – pastas prontas para receber bons e não tão bons trabalhos, provas de alunos, artigos para 2007 e planilhas de planejamentos que por enquanto ainda não se fecharam. Posso parecer pessimista neste primeiro texto que publico no blog, mas é assim que me sinto toda vez que me sento frente a essa máquina. Plugado ainda (fazer o que, né PC?). Sugado pelo tempo que passo aqui enquanto outra vida rola lá fora.
Se alguém depois disso quiser me diagnosticar como portador de TOC, um onlineholics, ok! Aceito falar sobre isso! Mas desde que pelo amor de Deus não me tirem o Youtube, o Orkut, meu e-mail, meu I-tunes, o rapidshare, os vlogs e tudo que há de legal e que não me lembrei de falar aqui porque estava trabalhando com eles enquanto redigia o texto.


* Esse texto estava hospedado no meu antigo blog.

Música Discreta


“Um espaço musical fecundo, aberto à visitação e pronto a receber novas colaborações”. É assim que Roberto D´Ugo Junior define seu PODCAST Música Discreta. Nas edições: rádio arte, avant-gard, minimal, paisagens sonoras e silêncio. Na última edição (de Páscoa) D´Ugo traz Michael Nyman e apresenta uma peça coral cantada em armênio clássico, uma composição que tem como tema a morte e o renascimento. A peça foi inspirada no terremoto que assolou a Armênia no ano de 1988, matando mais de vinte mil pessoas.
O padre Louis-Bertrand Castel – 1688-1757 – ficou famoso por relacionar a música às cores. Ele dizia: “O próprio do som é passar, fugir, estar irremediavelmente ligado ao tempo, e dependente do movimento (...). A cor, sujeita ao espaço é fixa e permanente como ele”.
A peça “Out of the Ruins” tem a cor cinza, sugiro eu, e relaciona-se com o terremoto ocorrido na época. Sensível e perfeito para dias de páscoa e chuva, como hoje.
Confira também a edição Cibernética, que trás Kraftwerk, Laurie Anderson, Philip Glass três expoentes da música pós-industrial.