sexta-feira, 13 de abril de 2007

Viver! ( Luís Fernando Veríssimo )

"Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.
Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km . Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem! Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem; você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde. E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna. Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca. Conversa é melhor do que piada.Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada. "

sábado, 7 de abril de 2007

2007 e a teoria do casulo.


27/01/2007
2007 e a teoria do casulo.



Final de férias e final do primeiro mês de ano. Em março eu fico mais velho. Outro aniversário, outros cabelos brancos apontam (aliás, eles sempre se destacam exatamente porque apontam, no meu caso quase sempre para o lado oposto onde todo o cabelo foi penteado com pasta e os dez dedos da minha mão). Depois de um período um tanto quanto conturbado (eu não ousaria mesmo crer que o que passei nessas últimas semanas foram férias) resolvi colocar alguns projetos em dia. Rabisco as primeiras idéias para minha pesquisa de doutorado – o tema pelo menos eu já decidi: entre dois – mas o importante é que já sei onde os livros estão na estante. Também reformei a sala, o banheiro agora tem um espelho legal que posso me ver da cintura pra cima (a antiga moradora havia levado o armário do banheiro e não me pergunte para quê) e principalmente reformei minha pior e mais excitante clausura, ou como diria Faith Popcorn, meu Cooconing ou encasulamento: Meu escritório. Aqui quase tudo dói durante o ano. Abrir os e-mails e receber as notícias de que alguém que você gosta demais não anda mais por aqui (como aconteceu ano passado com a perda de dois grandes alunos). Dói a cobrança de um entre 10 relatórios que você não fez e o prazo já era. Dói o Spam que nada mais era que um vírus te “alertando” que seu nome estava agora na malha fina (mesmo que você já tenho pago tudo, centavo por centavo da sua contribuição ao governo). Dói também a notícia que seu projeto não foi selecionado para aquele festival de arte eletrônica e – o pior – você ainda jurava que um pouco de talento ajudava a furar antigas panelas da elite intelectual paulistana. Aqui também o telefone toca, a Bina avisa e você sabe que deve decidir entre fazer o “set” (o maço de cigarro, um suco, um som de fundo) para ficar mais de uma hora com seu amigo tão solitário e tedioso quanto você ou deve optar em deixar a Bina muda e continuar imerso no Vale do Silício em busca das imagens para o trabalho, da música que você só se lembra do refrão, mas pode te ajudar a dar mais brilho pra essa parte da casa. Alguém falou em casa? Até porque lembrar que a casa existe só acontece mesmo quando o latido do seu cachorro te despluga violentamente do virtualismo. Aí sim, você resolve olhar pro lado e também se lembrar que a janela está há menos de um metro de você e que hoje é dia de feira e ainda tem um dia repleto de tarefas. O que distrai o tédio e dribla o vale é uma passadinha no Orkut. Não sou eu o único que mora sozinho e mesmo antes de entrar em casa deve fazer o ritual: Boa noite Bina! Boa noite Orkut! (excitante hora de medir o Ibope). Enfim, para 2007 o casulo mudou um pouco, cores novas na parede, uma grande porta pra lacrar a imersão, e tudo no lugar certo – pastas prontas para receber bons e não tão bons trabalhos, provas de alunos, artigos para 2007 e planilhas de planejamentos que por enquanto ainda não se fecharam. Posso parecer pessimista neste primeiro texto que publico no blog, mas é assim que me sinto toda vez que me sento frente a essa máquina. Plugado ainda (fazer o que, né PC?). Sugado pelo tempo que passo aqui enquanto outra vida rola lá fora.
Se alguém depois disso quiser me diagnosticar como portador de TOC, um onlineholics, ok! Aceito falar sobre isso! Mas desde que pelo amor de Deus não me tirem o Youtube, o Orkut, meu e-mail, meu I-tunes, o rapidshare, os vlogs e tudo que há de legal e que não me lembrei de falar aqui porque estava trabalhando com eles enquanto redigia o texto.


* Esse texto estava hospedado no meu antigo blog.

Música Discreta


“Um espaço musical fecundo, aberto à visitação e pronto a receber novas colaborações”. É assim que Roberto D´Ugo Junior define seu PODCAST Música Discreta. Nas edições: rádio arte, avant-gard, minimal, paisagens sonoras e silêncio. Na última edição (de Páscoa) D´Ugo traz Michael Nyman e apresenta uma peça coral cantada em armênio clássico, uma composição que tem como tema a morte e o renascimento. A peça foi inspirada no terremoto que assolou a Armênia no ano de 1988, matando mais de vinte mil pessoas.
O padre Louis-Bertrand Castel – 1688-1757 – ficou famoso por relacionar a música às cores. Ele dizia: “O próprio do som é passar, fugir, estar irremediavelmente ligado ao tempo, e dependente do movimento (...). A cor, sujeita ao espaço é fixa e permanente como ele”.
A peça “Out of the Ruins” tem a cor cinza, sugiro eu, e relaciona-se com o terremoto ocorrido na época. Sensível e perfeito para dias de páscoa e chuva, como hoje.
Confira também a edição Cibernética, que trás Kraftwerk, Laurie Anderson, Philip Glass três expoentes da música pós-industrial.